sábado, 12 de abril de 2014

Sermão da quinta feira da Paixão - Pe. Cardozo fala sobre a pena de morte.

Prezados amigos,

Salve Maria!

Abaixo o sermão da quinta feira da Paixão e a transcrição do mesmo, proferido pelo Pe. Ernesto Cardozo, em Betim/MG, onde trata como tema principal a legitimidade da pena de morte.


Fiquem com Deus.

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Transcrição:

“Esta bela passagem do perdão da Madalena, nos lembra esta frase tão bonita que diz: Lhe são perdoado muito porque tem amado muito, mas atenção porque não falta os prontos modernistas que dizem lhe tem amado muito por conta das relações apaixonadas que tiveram. Isso não é amor, é paixão. Amou muito porque demonstrou. Amou aos pés de Jesus. Chorando seus pecados e enxugando-os com os seus perfumes e suas lágrimas. Neste ato está mostrando o amor que teve por Deus e arrependimento dos seus pecados. Lhe tem perdoado muito porque tem amado muito. 

Dias passados tivemos uma conversa muito interessante, umas semanas atrás estava no México, e como vocês sabem, México é um pais um pouquinho (...) e tem pessoas no México que tem pedido, por exemplo, a pena de morte para os seqüestradores, porque seqüestram crianças, torturam crianças, as meninas e torturam-nas. Então se discutiu se a pena de morte é uma coisa lícita. E alguns disseram: ‘Não” Não pode ser uma coisa lícita porque vai contra o V Mandamento: Não matarás’. Então eu queria dizer-lhes uma coisa: No Antigo Testamento, quanto fala sobre o V Mandamento diz: ‘Não matarás o justo’. Inclusive, no Antigo Testamento, Deus manda a pena de morte para alguns casos, por exemplo, um filho que insultasse seus pais estava condenado a pena de morte. Vejam isso, um filho que amaldiçoasse os seus pais era condenado a pena de morte. Enfim, e dentre tantos casos, em caso de adultério também. É lícito ou não é lícito? Clarividente que sim! Ou seja, a Igreja sempre permitiu com base na Tradição; já no Antigo Testamento era permitido, e no Novo Testamento também, desde que se cumpra os limites [requisitos] que se trata de estar certo o máximo possível a certeza da culpabilidade. Uma vez estava dando uma palestra sobre os Santos Incorruptos, em Madrid, e havia entre as pessoas que estava ouvido a palestra, um General da Legião Estrangeira Espanhola e quando acabou a palestra, o General da Legião Estrangeira me disse: ‘Padre, quando for a Córdova, na Espanha, trate de falar com o Major Fulano de Tal, ele te vai contar um caso muito interessante. E assim arranjamos, passei por Córdova, fui a um bairro onde se encontravam os Legionários já reformados, e pedi para falar com um dos que estavam ai, um dos alto graus dos Legionários e ele me contou esta história, que vem ao caso:





Espanha tinha um território que se chamava Ifni, onde hoje é o sul de Marrocos, então, como este era território espanhol, estava resguardado, embora havia contínuas brigas com os marroquinos, por um destacamento da Legião Estrangeira Espanhola, que o corpo do Exército mais bravo da Espanha. E ocorreu que em uma noite, o soldado da guarda, deixou a guarda para fugir com uma moura. Quando descobriram que este soldado abandonou a guarda, de acordo com os estatutos da Legião, estava condenado a pena de fuzilamento. Então, juízo sumário, o fuzilam, e o enterram. Bem! Passou uma semana deste acontecido, ou um pouco mais, contam que estavam, num domingo, toda a formação na Missa – estamos a falar da época de Franco – estavam na Missa os soldados, e o Capitão, dá-se conta que falta um soldado e este soldado lhe diziam que era Cuqui. Então, quando termina a Missa, o Capitão vai até Cuqui e diz: ‘Que aconteceu, Cuqui, que não foste a Missa’, ele responde que não tinha vontade e tal. Não tinha vontade? Bom, ficará uma semana preso por não ter vontade de ir à Missa. Cuqui se zangou e disse ao Capitão: ‘Ficarei uma semana preso, mas quando eu sair de lá, eu te mato.’. Cuqui cumpre a semana de prisão e quando sai, vai bater à porta do Capitão e diz: ‘Quem é’, responde, ‘Sou eu, Cuqui’. O que queres? Vou matar-te! O capitão disse: ‘Não me perturbe, tome o seu posto e acabou!’. Ele diz: ‘Não! Venho matar-te!’ e o mata. É claro, prisioneiro, juízo, condenado ao fuzilamento. O Capelão vai ver Cuqui ao cárcere e lhe diz: ‘Vão matar-te pela asneira que fizeste. Tem que arrepender-te disso!’. ‘- Não, não me arrependo’. Bom!  O capelão, vendo que não queria confessar-se, não queria arrepender-se, o capelão reúne todo o exército e lhe diz: Vejam! Temos um problema, Cuqui matou o Capitão de uma forma estúpida e covarde e não quer se arrepender, então, peço a todos que rezem o terço pedindo a conversão deste soldado, porque, senão, se condenará ao inferno. E contam que todo o Exército, inclusive as mulheres dos soldados e dos oficiais que estavam lá, começaram a rezar o terço pedindo a conversão de Cuqui. Bem, começaram a rezar e ao terceiro dia, Cuqui pede confissão. Vai o confessor e Cuqui se confessa, se arrepende da asneira que fez, pede, inclusive que a viúva vá à prisão para ele pedir desculpas à viúva do capitão que ele matou. Vai, pede perdão à viúva. Bem! Acontece que Cuqui era um soldado simpático, todo mundo gostava dele, enfim. Então, os soldados disseram: ‘Porque não pedimos indulto à Madrid, ao General Franco, porque ele já pediu perdão à viúva, já se confessou...?” Escrevem à Madrid pedindo indulto do fuzilamento e Franco responde que não. ‘Soldados da Legião não está num jardim de infância. Tem de ser valente e cumprir-se. Fez uma asneira, terá de repará-la e tem que fuzilar este soldado.’ Bem. Quem estava me falando sobre isso, dirigia o pelotão de fuzilamento de Cuqui. Como ele contava: Ele estava no caminhão, e no caminhão, na carroceria do caminhão, ia Cuqui sentado no seu próprio caixão, os companheiros de armas com os fuzis, e quando chega à Praia do Mar – porque na orla do mar é o fuzilamento – um dos soldados quando desce, tira o fuzil e diz: ‘Eu não vou disparar contra Cuqui.’ e os outros companheiros também mostravam que estavam indispostos a ter que matar um companheiro. E Cuqui, ou seja, o próprio condenado, lhe diz aos seus companheiros: ‘Ei meninos! Vocês não são meninas aqui! Vocês são soldados! E vocês me vão fazer um favor matando-me. Porque eu tenho que pagar com minha vida a vida que eu tirei injustamente e diante de Deus é assim, tem que ser assim e eu aceito que seja assim e vocês me vão fazer um grande bem porque me permitirão a dar a vida em reparação àquela que eu tirei’. Os outros soldados ficaram pensando, ‘como assim?’. O capitão disse: ‘Vamos, à fila’. Formaram o pelotão. ‘O que queres, Cuqui, como ato de última vontade?’. Ele diz: ‘Bom, deixe-me rezar um Pai-Nosso’. Rezou o Pai Nosso. ‘Te vendamos os olhos?’. ‘Não!’. ‘Apontem, fogo!’. Morre! E lhes vão a enterrar-lo ao lado do soldado que 30 dias antes havia sido fuzilado por ter deixado a guarda. Ou seja, com uma distância de menos de um metro, de uma tumba da outra. Vejam, passou o tempo, morre Franco, chega a democracia à Espanha e o Rei perjúrio que tem os espanhóis dá de presente a terra, esta colônia espanhola que tem na África aos marroquinos, aos mulçumanos. Então, se manda retirar tudo o que seja católico deste território, inclusive as tumbas.  Porque? Porque os mulçumanos profanam as tumbas. Então, me dizia o capitão que tinha dirigido o pelotão de fuzilamento de Cuqui, que ele era encarregado de retirar as tumbas, tinha um grau maior, já tinha se passado 25 anos e, iam destampando as tumbas e colocando os ossinhos nas caixas e, destampam a tumba do soldado que havia fugido com uma moura. Juntam os ossos e põe numa caixa, quando vão destampar a tumba de Cuqui o caixão está feito pó, mas o corpo de Cuqui está íntegro. E [o capitão] diz: ‘Padre, eu vi isso! Ninguém me contou, eu vi! Como é possível que um cadáver que está posto a 80 centímetros de outro que, com um mês só de diferença estava feito pó e este estava como se estivesse sido fuzilado a 15 minutos?. O único sinal de que havia passado o tempo é que no buraco da bala havia uma teia de aranha. Porque este corpo estava incorrupto e o outro não se há só 80 centímetros de um a outro e só uma diferença de 30 dias?’. Eu disse: Veja: Este é um caso interessante, primeiro, interessante porque o Capelão é um bom capelão que mandou rezar terços pela salvação deste soldado, porque se o capelão não tivesse feito isso, quem sabe se ele se salvava? E vejam a força do terço. Todo o Exército estava rezando por este soldado, e ao terceiro dia este soldado aceita a confessar-se e se arrepende realmente e assume a sua culpabilidade. Segundo ponto: É interessante porque a incorruptibilidade de um corpo não se dá em qualquer um. Grandes santos apenas se dá a incorruptibilidade. E porque Deus permitiu a incorruptibilidade de um criminoso? Mostrou a incorruptibilidade do criminoso, dentre outras coisas,  porque este homem havia se arrependido muito porque havia amado muito. Deus lhe deu a graça de um verdadeiro arrependimento. Forte! Ao ponto tal, e isso se mostra quando os seus companheiros não queriam fuzilar-lo, e ele os arenga. E diz: ‘ânimo! Vocês tem que me fuzilar, é de justiça!’, então, ai se vê a importância da reparação do pecado. Ele sabia perfeitamente que havia feito uma asneira e que teria de dar a sua vida para reparar esta asneira. Então ai se vê a importância da pena de morte no sentido do bem que faz ao réu. Porque não é o mesmo que se diga: ‘Menino, tens 48 horas para preparar-te para morrer porque vão te fuzilar’, ou dizer: ‘você vai apodrecer num cárcere’, ou ‘tens 30 anos de cadeia’. Vocês sabem que a cadeia não é uma escola de virtudes. Então, tem-se muitos casos, o caso de São José Cafasso, que lhe chamavam Santo da forca, ao norte de Turim, na Itália. Este santo estava sempre esperando, chegavam os grandes criminosos que seriam enforcados e ele estava sempre preparando para confessar-los no último momento. Isso porque, quanto está com a morte, cara a cara, já não tem mais vontade de brincar. E isso ajuda muito à salvação das almas. Isso um dia no céu, veremos. Então, quando estes amigos mexicanos discutiam se era lícito ou não era lícito a pena de morte, se um desgraçado te rapta um filho e o destrói, me conte se não vai querer a pena de morte, porque, inclusive, a pena de morte no ponto de vista persuasivo, é muito importante, porque quando uma pessoa quer fazer um delito que, por exemplo, vai assaltar um banco, todos estão pensando o que acontece se a polícia o prende. Se eu vou fazer este delito e tenho pena de morte, vou pensar muito, muito, muito em fazê-lo. Mas se é um par de anos, 50, ou dependendo, 20 anos, um bom advogado, enfim... no México, as coisas andam muito bonitas, muito fáceis e pronto. Queridos fiéis, quando termos dúvidas sobre uma questão moral, e ver como atua a Igreja, tem que olhar para trás. Se a Tradição sempre sustentou a pena de morte, desde que se cumpram os requisitos que determinam os limites. Está bem. Peçamos o bom Deus que vejamos estas coisas e que tenhamos sempre como referência a Tradição e se na Tradição teve a pena de morte... e mesmo Cristo que foi condenado a morte não questiona a pena em si e sim o motivo. Então, não há ilicitude na pena de morte, desde que seja dada pela autoridade e se cumpram os preceitos para a justiça claramente possível. Que a Virgem Santíssima, Sede da Sabedoria, nos dê essa sabedoria para fortalecer a nossa fé. Ave Maria Puríssima.”